Um dos factores mais importantes no estabelecimento da vida em geral e das populações foi a existência de recursos de água doce abundantes. É um dos bens naturais mais intensamente utilizados, sendo determinante para a satisfação das necessidades metabólicas do ser humano, pelo que deve estar no ambiente em quantidade e qualidade apropriadas.
A água efluente que é desperdiçada resultante de despejos provenientes dos mais diversos usos, como o doméstico, comercial, industrial, agrícola e de muitas outras situações, é desviada para um conjunto de sistemas de drenagem que vão constituir os esgotos. Se este volume de água for lançado directamente no meio pode originar impactes muito graves quer ao nível da fauna e da flora locais, quer ao nível da saúde pública, uma vez que muitos dos esgotos contêm microrganismos patogénicos, como vírus, bactérias, protozoários e muitos outros que podem originar epidemias muito graves de certas doenças, como a febre tifóide, cólera, distúrbios gastrointestinais, hepatites, etc.
Em Portugal, devido à elevada concentração urbana junto ao litoral, os esgotos provenientes destes aglomerados populacionais eram lançados quer nos estuários, quer no mar. Em Lisboa, só após o terramoto de 1755 é que foram criados sistemas de grandes colectores que conduziam os esgotos para o estuário do Tejo, uma vez que antes desta data as águas residuais eram conduzidas para fossas ou lançadas pela janela, após o sonoro aviso lá vai água!
Só nos anos 80 do século XX é que em Lisboa foi iniciada a construção de uma estação de tratamento de esgotos. No caso da cidade do Porto, só no segundo semestre do ano 2000 começou a funcionar este tipo de tratamento.
No sentido de melhorar a preservação do ambiente e de elevar os níveis de qualidade de vida das populações, é prioritário proceder ao tratamento dos esgotos. O tratamento de efluentes com este tipo de especificidade é realizado em instalações construídas para esse efeito, denominadas por estações de tratamento de águas residuais (ETAR).
Neste tipo de estações, as águas residuais são sujeitas a tratamentos específicos, de acordo com as características do efluente, de modo a que o efluente final apresente uma qualidade compatível com as Directivas Comunitárias, sendo posteriormente descarregado, por exemplo, no mar, através de um exutor submarino.
Geralmente, as águas residuais numa estação de tratamento passam por quatro fases, as quais nem sempre são todas utilizadas.
- Tratamento preliminar – um dos tratamentos experimentados por um esgoto quando entra numa estação consiste numa série de processos físicos (crivagem, tamisagem, desareação) com vista à remoção e desintegração dos sólidos de maiores dimensões.
- Tratamento primário – o efluente é conduzido para decantadores, onde, por redução da velocidade da corrente, são eliminadas cerca de 50% a 60% das matérias que aí se encontram em suspensão e que podem ser decantadas sob a forma de lamas (lamas primária). As partículas que se depositam são, na sua maioria, de natureza orgânica, pelo que conseguem arrastar consigo uma grande quantidade de bactérias, permitindo, dessa forma, diminuir a carência bioquímica de oxigénio, bem como provocar uma certa descontaminação biológica.À saída do decantador primário, o efluente é essencialmente constituído por água contendo partículas coloidais ou suspensas, de reduzidas dimensões, e muita matéria orgânica dissolvida.
- Tratamento secundário – consiste basicamente na utilização de um reactor biológico e posterior decantação. O biorreactor pode funcionar quer em aerobiose, quer em anaerobiose, consoante a comunidade microbiana necessite de oxigénio ou não para eliminar a matéria orgânica. Durante este tratamento, as substâncias orgânicas, coloidais e dissolvidas, são oxidadas pela acção destes microrganismos. Normalmente, a biomassa activa encontra-se em suspensão, sendo esta forma de tratamento secundária denominada de lamas activadas. Após este tratamento, o esgoto experimenta uma nova decantação (lamas secundárias).
- Tratamento terciário ou avançado – são realizados tratamentos químicos e físicos que conduzem à remoção de nutrientes, de poluentes específicos, bactérias e sólidos suspensos de modo a que as características finais do efluente tratado estejam de acordo com os parâmetros desejados. Nem todas as estações de tratamento utilizam este último processo, uma vez que é bastante dispendioso.
Alguns materiais produzidos durante o tratamento das águas residuais podem ser valorizados. É o caso do biogás, essencialmente metano, produzido na operação de tratamento anaeróbio e que pode ser integralmente reaproveitado como fonte energética para suprir as necessidades energéticas da própria ETAR.
Os biossólidos ou lodos tratados são produtos (lamas) resultantes do tratamento das águas residuais nas ETAR e que posteriormente são tratados biologicamente em digestores anaeróbios. Podem ser utilizados como fertilizantes e condicionadores de solo desde que não representem um risco elevado de contaminação, devido à presença de determinados elementos.
O controlo e tratamento dos efluentes que são lançados nos cursos de água são hoje muito importantes, sendo uma das questões essenciais que devem ser debatidas numa região, uma vez que este tipo de prática possibilita a manutenção dos recursos hídricos dentro de parâmetros compatíveis com o desenvolvimento humano e a preservação do meio ambiente. Devemos desenvolver atitudes interventivas junto dos organismos oficiais ou organizações não governamentais, contribuindo para uma melhoria da qualidade de vida da zona onde vivemos, no sentido de conciliar o desenvolvimento com a preservação do ambiente.
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