terça-feira, 19 de abril de 2011

Pegada Ecológica


Um conceito interessante, sob o ponto de vista do desenvolvimento sustentável, e que importa analisar, é o de pegada ecológica.

O conceito de pegada ecológica foi criado por William Rees e Mathis Wackernagel em 1995 quando publicaram o livro “Our Ecological Footprint: Reducing Human Impact on the Earth” com o intuito de destacar o impacto que as cidades têm sobre o ambiente, e é representado pela área de território que é precisa para fornecer os recursos necessários e absorver os resíduos gerados pela comunidade. Neste conceito inclui-se a cidade e a casa onde moramos, os móveis que temos, as roupas que usamos, o transporte que utilizamos, o que comemos, o que fazemos nas horas de lazer, os produtos que compramos, entre outros.

A Pegada Ecológica não procura ser uma medida exacta mas sim uma estimativa do impacto que o nosso estilo de vida tem sobre o Planeta, permitindo avaliar até que ponto a nossa forma de viver está de acordo com a sua capacidade de disponibilizar e renovar os seus recursos naturais, assim como absorver os resíduos e os poluentes que geramos ao longo dos anos.

No conceito de Pegada Ecológica está implícita a ideia de que dividimos o espaço com outros seres vivos e um compromisso geracional, isto é, a capacidade de uma geração transmitir à outra um planeta com tantos recursos como os que encontrou.

A Pegada Ecológica é pois um indicador que procura avaliar a sustentabilidade dos territórios, comparando a utilização dos serviços e recursos naturais com a capacidade que a Natureza tem para efectuar a sua reposição. Por outras palavras, traduz em hectares (ha) a área em média que um cidadão ou sociedade necessitam para suportar as suas exigências diárias.

O cálculo tem por base diferentes categorias de consumo, como sejam a alimentação, a casa, os transportes, os bens de consumo, a energia, a água, entre outros. Este consumo é convertido em área bioprodutiva, segundo várias parcelas de terreno (terra e mar) necessárias para produzir/repor os recursos utilizados e assimilar os resíduos e os poluentes produzidos por uma dada unidade de população. A conversão dos consumos em áreas bioprodutivas recorre a uma tabela específica segundo a seguinte tipologia:

  • Área de energia fóssil – Corresponde a uma área virtualmente necessária para absorver as emissões de CO2 resultantes da queima de combustíveis fósseis;
  • Área arável – superfície em que o Homem desenvolve actividades agrícolas, retirando produtos como alimentos, fibras, azeite, entre outras, para suprir as suas necessidades alimentícias;
  • Área de pastagem - Área dedicada a pastos, de onde se obtêm determinados produtos animais como carne, leite, pele e lã;
  • Área de bosques - superfície ocupada pelos bosques, de onde advêm principalmente produtos derivados da madeira, utilizados na produção de bens, e também combustíveis como a lenha;
  • Área urbana – Área necessária para a construção de edifícios, corresponde a um solo completamente degradado;
  • Área de mar – A superfície marinha biologicamente produtiva aproveitada pelo Homem para obter pescado e marisco.

No cálculo tradicional da Pegada Ecológica normalmente não são contabilizados os serviços prestados pela biodiversidade, a perda de bio-capacidade resultante da emissão de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, para além do CO2, ou a sobre-exploração ecológica por parte da economia humana e os seus significativos impactos na biodiversidade. Todavia, e dado que a contabilização dos impactos das actividades do Homem sobre a biodiversidade é de uma enorme complexidade e é muito controversa no âmbito da metodologia aplicável, considera-se que a porção mínima de área necessária para a manutenção dos serviços vitais prestados pelos ecossistemas deve ser contabilizada no cálculo da Pegada Ecológica de um país através da subtracção de 12% à área bioprodutiva desse mesmo país.

Como exemplo da aplicação do conceito, a cidade de Londres, no Reino Unido, tem uma pegada ecológica de cerca de 120 vezes a área da própria cidade. Evidentemente que este tipo de modelos de desenvolvimento, se aplicados globalmente, comprometem o desenvolvimento sustentável.

Portugal ocupa o trigésimo nono lugar no ranking de países com maiores impactos ambientais relativos ao consumo de recursos naturais. A pegada ecológica per capita de Portugal é de 4,5 hectares.

A biocapacidade, indicador relacionado com a capacidade regenerativa do planeta para satisfazer as necessidades da humanidade, é em Portugal de 1,3 hectares por pessoa (ocupa o 85º lugar entre 124 países). Assim, Portugal está em défice ecológico, pois a pegada ecológica, de 4,5 hectares por pessoa, excede o valor da biocapacidade.

Actualmente, em média, os hectares de terra produtiva per capita que são necessários para sustentar o estilo de vida de um indivíduo em diversos países são os seguintes: um alemão necessita de 4,8 hectares; um brasileiro, de 2,2 ha; na China 1,6 ha; nos Estados Unidos 9,6 ha; na Índia 0,7 ha; no Japão 4,3 ha. A média mundial é de 2,3 hectares. A maior pegada ecológica é do cidadão norte-americano. Se toda a população do planeta adoptasse um estilo de vida similar, seriam necessários quatro planetas Terra.

Desde meados de 1980, que temos estado a exceder a biocapacidade do Planeta!

Segundo a WWF (World Wildlife Fund), “a procura humana de recursos naturais está a atingir níveis nunca vistos, rondando os 50 por cento acima do que a terra pode oferecer”. A pegada ecológica mostra que a “pressão sobre os recursos naturais duplicou desde 1966" e que o Homem está a usar "o equivalente a 1,5 planetas" para suportar as suas actividades.

Os modelos de desenvolvimento adoptados em todos os países ditos «desenvolvidos» têm assentado em pressupostos que, vistos à luz dos modelos de desenvolvimento sustentável, não são adequados.

Apesar de todos estes aspectos negativos existem exemplos de como reduzir a pegada ecológica de uma comunidade. Aquele que mais me chamou a atenção foram as eco-vilas ou eco-aldeias que procuram promover o desenvolvimento de comunidades sustentáveis. Isto é possível começando pelo tipo de materiais de construção numa casa, uma redefinição de padrões de consumo, e o simples acto de compartilhar e cooperar com as pessoas vizinhas.

Por exemplo, na Eco-vila Sieben Linden, na Alemanha, cujas casas são feitas de fardos de palha, madeira e barro, o consumo de energia não passa de 5% da média das casas com padrão ecológico. São casas muito eficientes, baratas e muito resistentes. A média de produção de CO2 nessa eco-vila está em apenas 20% da média da Alemanha. Os carros são compartilhados com os membros da comunidade, e o meio de transporte mais usado é a bicicleta. A comida é basicamente toda produzida no local, também de forma ecológica.

Admiravelmente, em Portugal, também já podemos encontrar este tipo de movimentos. Existe entre nós a “Rede Portuguesa de Eco-aldeias e Comunidades Sustentáveis” que ainda está em fase de criação e cujo objectivo é promover o desenvolvimento de comunidades humanas sustentáveis em Portugal. O seu web-site é: http://portugal.ecovillage.org/.

Uma pegada ecológica leve é uma qualidade valiosa num mundo cada vez mais consciente da necessidade de conservar energia, reduzir a emissão de gases de efeito de estufa e "descarbonizar" a economia tendo como propósito atingir um desenvolvimento sustentável.

Fontes:

"Verde Cor de Direito" - Lições de Direito do Ambiente - Vasco Pereira da Silva

http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=45571&op=all

http://www.wwf.pt/o_que_fazemos/por_um_planeta_vivo/o_relatorio_planeta_vivo/pegada_ecologica_humana/

http://wwf.panda.org/?referer=pandaorg

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ecovila

http://portugal.ecovillage.org/

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