quinta-feira, 7 de abril de 2011

Supremacia das energias renováveis, para quando?

Depois do acidente da central nuclear de Fukushima intensificou-se o debate sobre os riscos das centrais nucleares, bem como sobre as alternativas a este tipo de energia, apontando-se as energias renováveis como a solução para o futuro.

Segundo o ex-director do Programa Ambiental da ONU, Klaus Toepfer, "o desenvolvimento das energias renováveis estará no centro da estrutura energética a longo prazo, sem qualquer dúvida e em qualquer caso"
No mesmo sentido vai Amber Sharick,Senior Policy Advisor da Federação Europeia das Energias Renováveis, defendendo mesmo que as energias renováveis poderão substituir a energia nuclear, na seguinte entrevista:

Poderão as energias renováveis colmatar as necessidades de um sistema energético de baixo carbono até 2050, sem recorrer ao nuclear?

As energias renováveis são soluções viáveis para suprir as necessidades nos sectores dos transportes, aquecimento e arrefecimento e electricidade, como tem vindo a ser provado pelo aumento da percentagem de incorporação de renováveis nestes três sectores.
Nas discussões sobre a energia nuclear é importante enfatizar que os riscos associados à produção deste tipo de energia são levados a cabo com um objectivo básico. E isto poderá claramente ser feito de formas muito menos perigosas. Também é verdade que os Estados-membros com maior percentagem de energia nuclear no seu mix energético – França e Alemanha, por exemplo – precisam de olhar para as melhores soluções possíveis, pensando no sistema energético do futuro.
Décadas de experiência com as renováveis mostram que as tecnologias de baixo carbono podem funcionar a várias escalas e que podem ser complementadas com uma variedade de soluções de armazenamento, para aumentar a estabilidade e a confiança no sistema. É um desafio que requer uma clara intervenção política e um nível de financiamento apropriado.
Tem sido realizada muita pesquisa no sentido de avaliar o potencial das renováveis no espaço europeu, já que o potencial é vasto e não está limitado e uma tecnologia, sector ou país. Por exemplo, a Alemanha assumiu o compromisso de começar a abandonar o nuclear e, enquanto se discute o prolongamento da vida útil das centrais existentes, foram estudados cenários a longo prazo que assentam essencialmente nas renováveis e não incluem o nuclear no mix energético.
Portanto, a resposta é sim, as renováveis podem ajudar a colmatar as necessidades energéticas nos três sectores e o aumento da percentagem de incorporação pode ajudar a atingir outro tipo de objectivos, incluindo a redução das emissões de Gases com Efeito de Estufa, aumentar a segurança energética e abandonar progressivamente a energia nuclear.
Que estratégia deve ser adoptada pela Europa?
A Directiva relativa à promoção da energia proveniente de fontes renováveis apontou um caminho claro aos Estados-membros, sendo que os governos nacionais têm de ser encorajados a ser inovadores e ambiciosos para que seja possível cumprir e exceder as metas estipuladas. E os Estados-membros podem acompanhar atentamente o desenvolvimento da tecnologia e encorajar os países a financiar vários tipos de tecnologia para um mesmo sector.
De qualquer forma, é preciso ter em conta que as políticas devem estar alinhadas com o potencial dessas renováveis – no fundo, garantir que não se está a desperdiçar algum potencial, ao recorrer a determinadas tecnologias; é preciso observar com cuidado as taxas de crescimento neste sector, já que a tendência é que a subida de percentagem das renováveis seja maior no período 2010-2015 do que nos cinco anos seguintes; e, finalmente dar orientação para que sejam ultrapassadas as barreiras administrativas e de planeamento.
Considera possível atingir as metas europeias estipuladas para 2020?
Creio que é possível atingir os objectivos. Mas, para isso acontecer, será necessário um esforço significativo colocado nas decisões políticas e quadros de investimento efectivos para cada sector. Actualmente as renováveis têm sido impulsionadas por um pequeno número de Estados-membros e tecnologias (eólica onshore e biomassa, por exemplo). Já as renováveis no sector do aquecimento têm sido negligenciadas e, no transporte, é preciso um esforço adicional. A relação entre as renováveis e a eficiência energética tem de aumentar.
Entre as barreiras que as renováveis enfrentam na Europa, temos a falta de ambição, barreiras administrativas, regimes tributários discriminatórios, constrangimentos na rede, etc, o que terá de ser ultrapassado para que os objectivos europeus – a curto e longo prazo – sejam alcançados.
A crise económica poderá fazer derrapar os prazos?
A crise financeira não deve ser usada como desculpa para enfraquecer a indústria associada às renováveis. Hoje, mais do que nunca, é óbvio que as renováveis podem atingir vários objectivos sem os custos e as consequências para a saúde pública de outras tecnologias “limpas”. É por isso que é tão importante distinguir entre tecnologias de baixo carbono e não associar as renováveis à tecnologias como o nuclear ou a captura e sequestro de carbono. Sem avaliar e estipular quadros legais e regimes fiscais, barreiras administrativas e condições de investimento, assim como sem incorporar externalidades e riscos no preço e na análise dos custos não será possível existir fairplay.
De qualquer forma, parece existir uma grande oportunidade para eliminar o actual favorecimento dado à energia nuclear. Os fundos atribuídos a este tipo de energia devem, pelo menos, ser reexaminados – e talvez redireccionados para financiar tecnologias verdadeiramente renováveis que, para além de comportamento um risco diminuto, se assumem como tecnologias limpas.
                                                                                                                
  Fonte: Portal Ambiente Online




   

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