terça-feira, 29 de março de 2011

A reprodução ex situ e o repovoamento do Rio Alcabrichel

Ruivaco do Oeste (Achondrostoma occidentale)


Portugal tem pelo menos 22 espécies endémicas de peixes sendo que 7 se encontram em risco de extinção. Estas espécies estão em risco devido às secas constantes provocadas pelo efeito de estufa e à poluição nos seus habitats. Vivem geralmente em pequenos cursos de água, sujeitos a Verões secos e temperaturas elevadas tal como a focos poluidores.

Há que tomar medidas para preservar e manter estas espécies. Tomam, neste âmbito, grande importância os programas de reprodução em cativeiro (ex situ). Este programa deve ser paralelo à restauração dos habitats naturais para que voltem a acolher as espécies após um aumento das suas populações, de modo “artificial”.

Esta medida “artificial” é já desenvolvida em vários países sendo que existem projectos de sucesso na Europa.

A falta destas medidas, até agora, deveu-se ao facto destas espécies não representarem “interesse” para as comunidades locais pois são de pequenas dimensões, não tendo interesse a sua pesca, tal como o desconhecimento da sua presença pelos investigadores.

Com o desenvolvimento das recentes investigações sobre a ictiofauna das águas doces de Portugal percebeu-se que muitos dos pequenos cursos de água do centro e sul do país têm importantes espécies endémicas, mas em reduzidas populações. Nos últimos anos, descobriram-se 5 novas espécies endémicas, entre as quais, o Achondrostoma occidentale em três pequenas ribeiras da Estremadura (Alcabrichel, Sizandro e Safarujo).

Sendo estes cursos de água facilmente recuperáveis e de forma económica, estas são medidas nas quais se deve apostar de modo a evitar a extinção destas espécies.

No âmbito do Projecto de Recuperação do Habitat do Ruivaco do Oeste e do Projecto para Redução da Pegada Ecológica da UNICRE, no passado dia 27 Março, a UNICRE e a QUERCUS repovoaram o Rio Alcabrichel, com Ruivacos do Oeste (Achondrostoma occidentale). Esta acção contou com a presença da ministra Ambiente e do Ordenamento do Território, Dulce Álvaro Pássaro. A Pegada Ecológica é uma iniciativa da QUERCUS. Este é um indicador que traduz em hectares (ha) a área que um cidadão ou sociedade necessitam, em média, para suportar as suas exigências diárias, em termos de consumo.

O projecto da UNICRE iniciou-se em 2009 e representa um compromisso de 5 anos. Assim, a UNICRE financiou a restauração de um troço do rio Alcabrichel, no Ramalhal, Torres Vedras. O rio Alcabrichel pôde assim receber 400 Ruivacos do Oeste que resultam de um programa de reprodução da espécie em cativeiro, realizado em Campelo (Figueiró dos Vinhos).

A intervenção no rio Alcabrichel contou ainda com a colaboração do Município de Torres Vedras, Junta de Freguesia do Ramalhal e Centro de Biociências do ISPA que, logo desde 2009, removeram infestantes, estabilizaram as margens, instalaram vegetação e construíram fundões de modo a que no Verão o rio conserve água para esta espécie. Construíram-se ainda leitos de cascalho adequados à desova de modo a que esta espécie, agora no habitat natural, seja capaz de impedir a sua extinção.

Além do Ruivaco do Oeste estão a ser reproduzidas outras quatro espécies de peixes: a boga-portuguesa (Iberochondrostoma lusitanicum), o escalo do Mira (Squalius torgalensis), o escalo do Arade (Squalius aradensis) e a boga do Sudoeste (Iberochondrostoma almacai), sendo parceiros neste projecto a Quercus ANCN, o Centro de Biociências do ISPA - Instituto Universitário, o Aquário Vasco da Gama, a Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Técnica de Lisboa, a Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos e a EDP - Energias de Portugal.


Reprodução ex-situ de Achondrostoma occidentale nas instalações do Aquário Vasco da Gama


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