sábado, 26 de março de 2011

Relatório Stern - Alterações Climáticas

Portugal entre os países mais afectados pelo aquecimento global

Portugal, Espanha e França estão entre os países europeus mais afectados pelo aquecimento global, segundo um relatório britânico divulgado hoje, que aponta consequências como falta de água, ondas de calor e fogos florestais.O relatório Stern, encomendado pelo Governo britânico ao ex-responsável do Banco Mundial Nicholas Stern, evidencia as grandes variações climáticas na Europa, salientando que as regiões vão ser afectadas de maneira diferente.
"O Mediterrâneo vai assistir a um aumento do 'stress' hídrico, ondas de calor e fogos florestais. Portugal, Espanha e Itália serão os países mais afectados. Isto poderá levar a uma mudança para Norte no que respeita ao turismo de Verão, agricultura e ecossistemas", refere o documento.
O Norte da Europa poderá registar um aumento na produtividade agrícola (com adaptação à subida das temperaturas) e menos necessidade de gastar energia no Inverno.

Subida das águas ameaça Holanda

O degelo das neves alpinas e padrões de precipitação mais extremos podem aumentar a frequências das cheias nas principais bacias hidrográficas como as do Danúbio, Reno e Ródano.
O turismo de Inverno será gravemente afectado.
O estudo prevê também que muitos países costeiros em toda a Europa sejam vulneráveis à subida do nível do mar.
A Holanda, onde 70 por cento da população seria ameaçada com uma subida de um metro no nível do mar, é o país que se encontra mais em risco.
O relatório refere ainda que os países desenvolvidos em latitudes mais baixas (caso de Portugal) são os mais vulneráveis.

Falta de água e ondas de calor no sul da Europa

Regiões onde a água já é escassa enfrentariam grandes dificuldades e custos crescentes. Estudos recentes sugerem que um aumento de dois graus nas temperaturas globais poderia levar a uma redução de 20 por cento na disponibilidade de água.
A escassez de água nesta região vai limitar o efeito de fertilização do carbono e levar a quebras substanciais na agricultura.
Os custos dos fenómenos extremos como tempestades, cheias, secas e ondas de calor vão aumentar rapidamente com temperaturas mais altas, neutralizando alguns dos benefícios iniciais associados às alterações climáticas.
Só os custos destes fenómenos poderiam atingir 0,5 a um por cento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial em meados do século e continuarão a aumentar à medida que o mundo aquece.
As ondas de calor, como a que aconteceu na Europa em 2003, provocando a morte de 35 mil pessoas e prejuízos de 11,7 mil milhões de euros na agricultura, serão comuns em meados do século.
A disparidade Norte-Sul dos impactos das alterações climáticas já tinha sido registada durante esta onda de calor, quando as colheitas no Sul da Europa tiveram uma quebra de 25 por cento, enquanto no Norte da Europa se verificou o contrário (aumento de 25 por cento na Irlanda e 5 por cento na Escandinávia).
Nas latitudes mais baixas, espera-se um aumento global do consumo de energia,devido à maior procura de ar condicionado no Verão.
Nestas regiões, as mortes durante o Verão deverão ultrapassar a redução de óbitos durante o Inverno, levando a um aumento global da mortalidade.

Turismo poderá deslocar-se para Norte

Da mesma maneira, o turismo pode mudar-se para Norte, já que as regiões mais frias vão passar a ter verões mais quentes, enquanto as regiões mais quentes do Sul da Europa vão sofrer uma maior frequência de ondas de calor e reduzir a disponibilidade de água.
A distribuição destes impactos em vários sectores poderá estimular uma mudança para Norte a nível da actividade económica e população em regiões como a América do Norte ou a Europa, à medida que as regiões do Sul vão sendo afectadas por aumentos desproporcionados dos riscos para a saúde humana e fenómenos extremos associados a uma perda de competitividade na agricultura e no sector florestal, menor disponibilidade de água e aumento dos custos da energia.
Vastas regiões do mundo serão devastadas por consequências sociais eeconómicas das temperaturas elevadas.

"Como a História demonstra, assistiremos a um movimento populacional em grande escala, que desencadeará conflitos regionais", salienta o estudo.

Fonte – www.gaia.org.pt


O Relatório Stern remonta a 2006 e foi um estudo encomendado pelo governo britânico ao economista Nicholas Stern para se aferir dos efeitos que as alterações climáticas poderão ter dentro de 50 anos.
Na esteira de Carlos Nunes, Assessor da Direcção de Serviços de Prospectiva Estratégica, as conclusões que se podem retirar do Relatório Stern são as seguintes:
“ - Nos últimos 50 anos a temperatura média à superfície da Terra aumentou
0.6º C;
- as causas para este fenómeno são, essencialmente, de natureza
antropogénica;
- a ausência de acção (cenário BAU) implicará que no dealbar do próximo
século se entre em “território” desconhecido;
- os impactos decorrentes do aquecimento global, conquanto se façam sentir
de forma desigual nas diferentes grandes regiões terrestres, serão sempre
consideráveis e tanto mais gravosos quanto mais lato for o horizonte
temporal considerado;
- em função das dinâmicas em presença (stock crescente de GEEs, efeito de
retroacção do aumento da temperatura, enfraquecimento dos sumidouros
naturais de carbono, etc.), impõe-se a implementação urgente de medidas
correctivas;
- a via central desse combate corresponde à mitigação, sendo seus vectores a
redução da intensidade energética de bens e serviços, a mudança de
tecnologias na produção de electricidade, o reforço da eficiência energética, o
combate à desflorestação e o recurso à reflorestação;
- a prossecução desta política exige, para além da fixação de metas de longo
prazo, a adopção de uma metodologia de cálculo para repartir emissões,
sendo imprescindível envolver os PVDs neste processo, ainda que
salvaguardando o princípio das responsabilidades comuns mas diferenciadas;
- os instrumentos da política supra-referida são a fiscalidade e as licenças de
emissão competitivas;
- a adaptação, com elevados rácios B/C, constitui um coadjuvante relevante,
em especial, nos PVDs, importando reconhecer as limitações decorrentes da
escassez em recursos (em sentido amplo), que este grupo de países
defronta;
- a implementação prática da mitigação e da adaptação exige coordenação, a
fixação de um preço para o carbono, a cooperação e apoio aos PVDs com
ênfase nos domínios tecnológico e financeiro.”
Contudo, este entendimento não é pacífico e como tal já teve várias críticas a si dirigidas.
As críticas aqui enunciadas são baseadas no estudo do autor supra referido, sendo que este se baseou nas opiniões de R. Carter e I. Byatt.
“Em conclusão, a componente científica está de tal forma enviesada que é
inadequada, senão mesmo, insensata para fixar objectivos de política económica
denotando as limitações seguintes:
- o fracasso em compreender quer o âmbito quer a escala dos hiatos do
conhecimento bem como as incertezas relativas à ciência climática;
- a aceitação acrítica de hipóteses de explicações da causalidade do fenómeno
climático baseadas em modelos hipotéticos;
- a sobrestimação sistemática dos impactos climáticos, mediante as
consideração de um cenário demográfico não plausível, a que acresce o
tratamento unilateral das consequências do fenómeno;
- a omissão quanto à avaliação de muitos estudos de investigação nucleares e
relativos a várias áreas do conhecimento;
- a ausência de preocupações com as limitações de que enferma o processo de
peer review, mormente, no plano das garantias de qualidade ou credibilidade.
(...)
Para além das apreciações finais expressas a propósito da vertente científica,
importa agora acrescentar as seguintes notas finais:
- os custos projectados das mudanças climáticas são, sistematicamente,
sobrestimados, o que, em parte, se fica a dever à incapacidade de determinar
o papel da adaptação no processo de aquecimento global;
- o custo provável do drástico programa global de combate à mitigação é
subestimado, incluindo a parcela correspondente ao mundo subdesenvolvido;
- é proposta a adopção de uma taxa de juro extremamente baixa para
descontar os custos e os benefícios da mitigação, opção que resulta de uma
análise incorrecta e que não equaciona devidamente os riscos e os problemas
daí decorrentes.”

O Relatório Stern parece, de facto, ter ido longe demais e, seguindo Tol, diria que é um estudo “alarmista e incompetente”.
Os estudos citados demonstram uma grande selectividade, contudo, os critérios adoptados não foram aleatórios, pois salientam os estudos mais pessimistas. Também os resultados a que se chega são bastante mal interpretados.

Relatório Stern - http://webarchive.nationalarchives.gov.uk/+/http://www.hm-treasury.gov.uk/independent_reviews/stern_review_economics_climate_change/stern_review_report.cfm

O texto de Carlos Nunes pode ser consultado na íntegra em http://www.dpp.pt/pages/files/Relatorio_Stern.pdf.

Cátia Oliveira Subturma 1 Nº 17237

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