domingo, 27 de março de 2011

O Lince Ibérico




Este ano já nasceram e morreram quatro linces-ibéricos em Silves


26.03.2011
Helena Geraldes

A época de reprodução do lince-ibérico, o felino mais ameaçado do planeta, ainda vai a meio mas já há novidades. Quatro crias nasceram em Fevereiro e em Março no centro de Silves mas acabaram por morrer. Nos cinco centros ibéricos há 29 casais, oito em Portugal.
Estes serão, talvez, os dias do ano de maior ansiedade no Centro Nacional de Reprodução em Cativeiro para o Lince-Ibérico (CNRLI), na Herdade das Santinhas, em Silves. Normalmente, as cópulas ocorrem de Dezembro a Fevereiro. As crias nascem entre Março e Abril, depois de um período de gestação de 64-66 dias.

          É a segunda vez que Portugal participa no esforço ibérico de tentar reforçar a população mundial de lince-ibérico (Lynx pardinus), através da reprodução em cativeiro, uma solução de fim de linha para a espécie.

           O primeiro parto dos 29 casais formados na Península Ibérica aconteceu em Silves, na tarde de 28 de Fevereiro. Biznaga, de cinco anos - que chegou ao centro português apenas em Novembro vinda do Zoobotánico de Jerez de la Frontera, e que foi emparelhada com Eón, macho de três anos – deu à luz duas fêmeas, depois de 64 dias de gestação.

          No entanto, Biznaga, mãe pela primeira vez, abandonou as crias, horas depois de ter dado à luz. “A equipa do Centro interveio nos cercados recolhendo as crias que foram logo transportadas para a sala de cria artificial, ambas em hipotermia”, informa o CNRLI, em comunicado publicado no site oficial. “As crias foram reanimadas e colocadas em incubadoras”, oferecidas pela Maternidade Alfredo da Costa por não terem já utilidade para os bebés humanos, acrescenta.

         Os animais morreram 12 horas mais tarde, como consequência da “hipotermia e hipoxia” causadas pelo abandono da progenitora. “Esta é uma circunstância normal para as fêmeas que são mães pela primeira vez”, explica. “As crias de lince nascem com os olhos fechados e são totalmente dependentes da mãe para receber imunidade através do leite, calor, protecção e limpeza”, explica o centro que lamenta o sucedido mas salienta a importância de se ter conseguido que Biznaga tivesse começado a reproduzir-se, após um longo período em cativeiro sem o ter feito.

        Dias mais tarde, a 11 de Março, Fresa – com dois anos e emparelhada com Fado, da mesma idade -, deu à luz duas crias, depois de apenas 59 dias de gestação. As crias, de sexo indeterminado e nascidas de parto prematuro, foram encontradas às 07h00 pelos funcionários do centro. “Fresa encontra-se de perfeita saúde”, garante.

        Reprodução em cativeiro já conseguiu cinco crias vivas em Espanha

        Até ao momento nasceram em Portugal e Espanha 13 crias de cinco partos diferentes. Apenas sobreviveram cinco animais; os outros oito faleceram ou já nasceram mortos.

         De acordo com o jornal espanhol "El País", o centro de La Olivilla (Serra Morena) registou quatro partos dos quais resultaram cinco crias de boa saúde, duas que morreram pouco depois de nascer e quatro prematuros.

         No ano passado, Silves participou na época de reprodução com quatro casais, num total de 54 animais. 2010 ficou marcado pela época reprodutora ibérica mais difícil desde o início do programa, em 2003, com apenas nove crias sobreviventes. Em parte devido à doença renal crónica.

        Este ano em Silves não se espera que todas as fêmeas consigam reproduzir-se. Das oito fêmeas que participam nesta época reprodutiva, apenas cinco são adultas. Rodrigo Serra, director do CNRLI, disse ao PÚBLICO no final de Dezembro que espera que as mais novas "aprendam os comportamentos reprodutivos e a estar com um macho".

        Das cinco fêmeas adultas, apenas uma é considerada experiente, Azahar. A 4 de Abril de 2010 deu à luz duas crias mas acabaram por morrer a 11 e a 18 de Abril, porque nasceram com problemas congénitos incompatíveis com a vida. Além disso, duas das fêmeas - Erica e Espiga - têm uma doença renal, o que pode dificultar os esforços.

        Actualmente vivem cerca de 80 linces em cinco centros de reprodução em cativeiro: El Acebuche em Huelva (a funcionar desde 1992), La Olivilla em Jaén (2007), Silves (2009) e Zarza de Granadilla em Cáceres (que abriu este ano). A estes há ainda a acrescentar as instalações no Zoobotánico de Jerez de la Frontera.

       O centro de Silves - que resulta de uma medida de compensação pela construção da Barragem de Odelouca, imposta pela União Europeia, e é financiado pela empresa Águas do Algarve - começou a ser construído em Junho de 2008. Ficou pronto em Maio de 2009. Azahar foi o primeiro lince a chegar, a 26 de Outubro desse mesmo ano, graças a um protocolo de cedência de linces assinado a 28 de Julho de 2009, em Penamacor, pelo então ministro do Ambiente, Francisco Nunes Correia, e a sua homóloga espanhola, Elena Espinosa. A população de 16 animais ficou completa a 1 de Dezembro.

         No ano passado houve alterações aos linces de Silves. Em Novembro, os machos Ébano, Eucalipto e Daman foram transferidos para o centro de reprodução de El Acebuche, em Doñana. Chegaram as fêmeas Biznaga, Flora e Fruta; Gamma, Guara e Génesis, todos com menos de um ano de idade, estiveram em Portugal temporariamente, à espera que ficasse concluído o quinto centro de reprodução ibérico, em Granadilla.

       É também nesta altura que, na natureza, as fêmeas das populações selvagens de lince-ibérico parem as suas crias numa toca de um sobreiro, numa zona mais inacessível de fragas ou numa área mais densa de matagal mediterrâneo. “As probabilidades de sobrevivência das crias dependerão da disponibilidade de presas na área, da tranquilidade da progenitora, da existência de armadilhas ilegais no terreno e de outras ameaças a esta espécie Criticamente Em Perigo”, explica o centro de Silves.

        Estima-se que existam actualmente apenas cerca de 150 linces-ibéricos; em meados do século XIX seriam cem mil espalhados por toda a Península Ibérica. Hoje a espécie vive em Portugal numa situação de "pré-extinção". O colapso das populações de coelhos, a sua principal presa, a caça indiscriminada e a perda de habitat explicam o cenário.

       O objectivo final do programa ibérico de reprodução em cativeiro é conseguir conservar 85 por cento da variabilidade genética existente actualmente na natureza, durante um período de 30 anos. Para tal será preciso um núcleo de 60 linces reprodutores. A fase seguinte será fazer uma reintrodução gradual dos animais em determinadas áreas consideradas prioritárias. Até ao final de 2012, Portugal deverá implementar um programa para a reintrodução dos animais na natureza.

Notícia retirada do Jornal o Público - Ecosfera

Sem comentários:

Enviar um comentário