segunda-feira, 28 de março de 2011

Agro-ecologia e o direito à alimentação

N

o passado dia 8 de Março foi publicado um relatório das Nações Unidas[1] que sustenta que os agricultores de pequena escala dos países em desenvolvimento poderão duplicar as suas produções agrícolas num período de 10 anos, caso optem pela utilização de métodos ecológicos nas suas culturas. Como afirma o autor do estudo, Olivier De Schutter, “as evidências científicas da actualidade demonstram que os métodos agro-ecológicos superam a utilização de fertilizantes químicos no aumento da produção alimentar nos locais onde a fome é uma realidade, especialmente em ambientes com condições desvaforáveis”.

Mas afinal o que é a agro-ecologia?

Antes de mais devemos ter em consideração que o termo agro-ecologia tem 3 vertentes distintas: a) agro-ecologia como ciência b) como movimento c) como prática[2]. Com efeito, a agro-ecologia consiste numa produção agrícola “onde a Natureza mostra o caminho”, uma agricultura socialmente justa, onde existe um equilíbrio entre nutrientes, solo, plantas, água e animais. No fundo, uma agricultura sem destruição do meio ambiente. Na esteira de Miguel Altieri[3], podemos afirmar que a agro-ecologia, sustentando-se em várias disciplinas científicas, pretende estudar a actividade agrícola sob uma perspectiva ecológica. Por conseguinte, a agro-ecologia adopta o agro-ecosistema como unidade de análise, tendo por fim, em última instância, proporcionar as bases científicas, i.e., princípios, conceitos e metodologias, para apoiar o processo de transição de um modelo de agricultura tradicional para um modelo sustentável. Ademais, esta ciência poderá ajudar a colocar um ponto final nas crises alimentares e, concomitantemente, tem em consideração as alterações climáticas. Com efeito, utilizando as técnicas agro-ecológicas, estaremos a contribuir para o aumento da produtividade dos solos, além da protecção das culturas contra pragas, utilizando apenas agentes naturais.

O relatório estatui que os projectos agro-ecológicos já resultaram num aumento do rendimento nas culturas de cerca de 80% em 57 países em desenvolvimento, com um acréscimo médio de 116% em vários países africanos. São também dados os exemplos do Vietname, Bangladesh e Indonésia.

Não obstante, a utilização de tais técnicas não se reduz aos países em desenvolvimento. Países como os EUA, França ou Alemanha têm também apostado na agro-ecologia, apesar de apenas em sede de fase experimental. Com efeito, o facto de não trazer nenhum benefício económico às empresas privadas, que dão primazia ao registo de patentes e à abertura de mercados para produtos químicos ou sementes modificadas, tem sido um verdadeiro entrave para a expansão e propalação da agro-ecologia.

Fazendo uma síntese do relatório, devemos estar muito atentos ao facto do custo da produção agrícola estar a seguir, de muito perto, o custo do petróleo. Isto significa que, caso não se tomem medidas rápidas e eficazes, poderemos estar no limiar de uma crise alimentar com contornos preocupantes e até mesmo de desastres climáticos e alimentares ciclícos no séc.XXI.



[1] http://www.srfood.org/images/stories/pdf/officialreports/20110308_a-hrc-16-49_agroecology_en.pdf

[2] Wezel, A., Bellon, S., Doré, T., Francis, C., Vallod, D., David, C. (2009). Agroecology as a science, a movement or a practice. A review. Agronomy for Sustainable Development

[3] Agroecology: The Science of Sustainable Agriculture [M. A. Altieri (1995) Westview Press, Boulder]; Agroecology: Creating the Synergisms for a Sustainable Agriculture [M. A. Altieri (1995) UNDP Guidebook Series, NY]

Fontes: ftp://ftp.fao.org/SD/SDA/SDAR/sard/SARD-agroecology%20-%20english.pdf

http://www.srfood.org/index.php/en/component/content/article/1174-report-agroecology-and-the-right-to-food

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