quarta-feira, 16 de março de 2011

Nagasaki em 2011?

As notícias da actualidade dão conta dos incidentes ambientais e dos desastres nucleares no Japão. Estamos a falar da terceira maior economia do mundo e já se prevê cerca de seis meses para que recupere destes incidentes. O sismo de sexta-feira passada, seguido de um tsunami nas ilhas nipónicas levou a que se desse um grave acidente nuclear na localidade de Fukushima, levando ao colapso de um dos reactores da central nuclear. Tal explosão libertou uma onda radioactiva que causou efeitos colaterais a centenas de pessoas, sendo as mais afectadas os trabalhadores da central e os habitantes mais próximos. Os níveis de radiação a que foram sujeitos foram considerados letais e de certo que as consequências vão ser de doenças crónicas e muitos não conseguirão sobreviver. Este caso, faz-nos relembrar o que sucedeu em Tchernobyl, um terrível acidente nuclear que ainda nos dias de hoje conta com pessoas a nascerem afectadas e com a proibição de residência nas principais áreas afectadas pelo acidente nuclear. Para o Professor João Seixas (1), especialista em física de partículas elementares e responsável pelo grupo português na experiência do acelerador de partículas LHC (Large Hadron Collider) do CERN (Organização Europeia para a Investigação Nuclear), Fukushima, não deverá de acordo com os dados que temos ser comparado ao acidente de Tchernobyl, explica:
"Não tem o mesmo nível de gravidade porque o reactor de Tchernobyl era um reactor aberto, com um moderador que era água. Estes, de Fukushima, estão fechados num invólucro que protege todo o core do reactor do exterior. Pode haver uma racha no invólucro mas até agora ainda não houve indicações de problemas muito graves em termos de quantidade de material radioactivo que tenha saído”. Contudo, o medo instala-se principalmente quando se fala em chuvas que podem fazer baixar a onda radioactiva e contaminar um maior número de pessoas, entre as quais as que estão nos centros de apoio aos refugiados. Para se ter uma ideia, centenas de produtos alimentares foram destruídos e impossibilitados pelas autoridades japonesas de dar às populações, na medida em que estão contaminados, a mesma medida sucedeu aquando do desastre de Tchernobyl, em que a Itália e a Polónia proibiram a importação de produtos alimentares provenientes das zonas afectadas. Dizem os entendidos que a nuvem radioactiva não vai atingir Portugal e que com o tempo vai alargar-se e o perigo vai dissipar-se. Há anos a esta parte que Portugal se vem a debater com o facto de ser dependente de quase tudo a nível mundial, da alimentação, dos medicamentos, dos têxteis, mas principalmente da energia que leva uma grande parte das nossas receitas e do PIB. Muitos especialistas defendem o nuclear como forma de atenuar a dependência externa e assim sermos também mais amigos do ambiente, tendo em conta que a poluição com a produção da energia nuclear é zero. Mas agora depois do acidente no Japão os mais cépticos começam a olhar com desconfiança e receio que o mesmo suceda se tivermos centrais nucleares. Não posso deixar de expor a minha opinião. Estou em desacordo total. As técnicas dos anos 70 e 80 já não são aplicadas e tanto é verdade que logo que se deu o desastre no Japão, Angela Merkel deu ordens para desactivar as centrais nucleares com fabrico e componentes dos anos 80. Contudo, tal medida foi preventiva e para apurar o estado das infra-estruturas porque até agora não houve sinais de problemas na sua laboração. Espanha é um país que também tem centrais nucleares e mais, uma das sete bem próxima da fronteira com Portugal, a de Almaraz, que está a 100 KM do nosso país (2). Segundo os dados da Autoridade Nacional de Protecção Civil um desastre nuclear em Almaraz podia ter como consequências a afectação de 7% do território português e quem fala em território fala nas pessoas que nele habitam. Haveria restrições no consumo de água e de vegetais e um cuidado redobrado na exposição ao meio ambiente, tendo que sempre que tal sucede-se que se tomar um duche, contudo a protecção civil indica estar pronta e ter planos de emergência a accionar em caso de catástrofe. Desta feita, constatamos que até aos dias de hoje ainda não se deu nenhum acidente nuclear na Espanha e que se tal sucedesse seriamos afectados tal como se as centrais nucleares estivessem em solo português. A maior parte dos países da zona euro tem centrais nucleares e a verdade é que deste modo conseguem fugir mais facilmente às especulações dos mercados árabes quanto ao preço do "ouro negro". Ainda se deve acrescentar que Portugal tem um bónus: é rico em urânio. Contudo, o nosso urânio deixou de ser extraído e exportado, sendo as últimas exportações para a Alemanha o que gerou várias contestações por parte das populações locais. Não entendo porquê? Temos o mais cobiçado urânio do mundo e com um nível de produção em bruto elevado, podemos assim dizer que caso tivéssemos centrais nucleares seriamos auto-suficientes e não precisaríamos de importar matérias-primas como é do costume, temos mão-de-obra. Bem podem dizer que existe problemas para a saúde como as neoplasias malignas de que padecem alguns ex-trabalhadores das minas de urânio, mas devemos convir que os tempos são outros e as formas de extracção da matéria-prima é mais segura e de acordo com as exigências da OMS, bem como os materiais e técnicas de construção e produção de energia nuclear já não são as mesmas que as dos anos 80, o mundo evoluiu e os engenheiros reformularam a sua receita. Mas como sabemos riscos zero é impossível tanto para o ambiente como para as pessoas, bem como o Planeta Terra anda em constante movimento e o que se deita para a atmosfera em Tóquio chega a Lisboa, mais tarde ou mais cedo, portanto os riscos de acidentes nucleares, salvo o devido respeito por opiniões contrárias, deve ser colocado a nível mundial e não local, pura e simplesmente porque não faz sentido outra concepção. Desta forma, penso que poderíamos ao mesmo tempo proteger a natureza e fazer com que o Homem prossiga a sua vida de forma mais livre e sem o medo constante das subidas e descidas do crude e dos confrontos árabes. Esta é no meu entender uma visão antropocêntrica consciente e contemporânea. Contudo, não posso deixar de referir que tal decisão teria de ter um amplo consenso da sociedade portuguesa e de ser bem explicada para que não deixasse dúvidas, bem como em caso algum tivesse outro objectivo que não o sustentar das necessidades do país e não fins bélicos!

Localização das Centrais Nucleares na Europa:


(1) http://noticias.sapo.pt/info/artigo/1137443.html
(2)http://www.prociv.pt/PREVENCAOPROTECCAO/RISCOSTECNOLOGICOS/EMERGENCIASRADIOLOGICAS/Pages/CentraisNuclearesnaEuropa.aspx (3)http://www.rtp.pt/noticias/index.php?t=Japoneses-enfrentam-ameaca-de-desastre-nuclear.rtp&article=423855&layout=10&visual=3&tm=7
Hélio de Sousa.
17307 Sub-turma 9

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