sexta-feira, 20 de maio de 2011

O Mito da Água Engarrafada



Todos nós sabemos que a água engarrafada é muito mais saudável que a água da torneira, certo? Na verdade, a maior parte da água engarrafada vem da torneira. Se juntarmos este facto aos resíduos de plástico que a acompanham verificamos que, de facto, de saudável pouco ou nada tem.

Como nos ensina Annie Leonard (no vídeo acima), o negócio da água engarrafada começou quando os comerciantes se aperceberam de que a venda de refrigerantes estava a estagnar e precisavam de uma ideia inovadora. Mas como é que iriam conseguir vender um tal produto? Ora, é simples, basta fazer grandes campanhas de marketing dizendo que a água engarrafada é água saudável ao contrário do que se verifica com a água da torneira.

Na verdade, água engarrafada é apenas isso mesmo, água, embora esse facto não impeça que as pessoas a comprem, só por vir numa garrafa.

Apesar de ainda existir cerca de 900 milhões de pessoas no mundo que não têm acesso a água de boa qualidade, segundo dados da ONU, verifica-se um excessivo consumo de água engarrafada por parte de populações que têm acesso a água tratada.

Ora, um estudo do Instituto Regulador de Águas e Resíduos (IRAR) em 2008 demonstrou que três quartos dos portugueses utiliza a água engarrafada para uso alimentar de uma forma generalizada, apesar de a água da rede pública ter boa qualidade para consumo.

Na sondagem efectuada, 15% das pessoas afirmaram comprar sempre água engarrafada; 59% reconheceram fazê-lo algumas vezes, ou seja, alternando o recurso à torneira com a garrafa. Só 25% responderam não à pergunta: "Costuma comprar água engarrafada?"

Já em 2007, um estudo da Associação das Empresas Portuguesas para o Sector do Ambiente tinha mostrado que cerca de 40% dos portugueses recorriam à água engarrafada por não confiarem na que circula nas redes públicas de abastecimento. Uma percepção que não corresponde à realidade e que sai bem mais cara.

Afirma ainda o IRAR que "a pressão do marketing relativamente ao produto água engarrafada também contribui naturalmente para estimular o seu consumo" e os dados da indústria provam que este é um bem em expansão.

Infelizmente, este é um fenómeno social em expansão, que também se verifica noutros países, e que não reflecte a evolução da qualidade de água, com melhorias consistentes nos últimos anos. É o ambiente que sofre com esta opção, sendo que milhares de toneladas de plástico são consumidas para produzir embalagens e muitas emissões CO2 para a atmosfera são feitas durante o transporte da água.

Talvez pudéssemos seguir o exemplo dado por Jean Hill, um activista de 82 anos americano, que convenceu os vizinhos e dirigentes municipais de Concord a votar contra a venda de água engarrafada na cidade. No entanto, podemos questionar a legalidade desta medida, já que pode constituir um atentado à liberdade de iniciativa económica. Também a pequena cidade australiana de Bundanoon decidiu vetar a venda, substituindo todas as garrafas por garrafas reutilizáveis que se possam encher com água dos fontanários.

De facto, os Estados Unidos são dos países que mais optam pela garrafa (26 milhares de litros), mas logo a seguir – refere um estudo publicado pelo Earth Policy Institute –, estão os mexicanos (18 milhares) e os chineses e brasileiros (com 12 milhares). Na Europa, os italianos conseguem ultrapassar os americanos, com 184 litros por ano e por pessoa.

Se estes motivos ainda não vos convencem, aqui vão mais cinco.

1. A água engarrafada não é economicamente vantajosa. Uma garrafa de água pode sair cem a 200 vezes mais cara do que a da rede, nalguns países. Se pensarmos bem, encontramos garrafas de água à venda nas máquinas de venda automática, ao lado dos refrigerantes e, exactamente ao mesmo preço.

2. A água engarrafada não é mais saudável do que a água da torneira.

3. Água engarrafada equivale a lixo, isto é, esta indústria pode gerar até 1,5 milhões de toneladas de resíduos plásticos por ano.

4. A água engarrafada afasta as atenções dos sistemas públicos.

5. Verifica-se a privatização da água, já sendo considerado como o “ouro azul” do século XXI. Graças ao aumento da população e urbanização, às alterações climáticas e à poluição industrial, a água é cada vez mais um bem precioso. Verifica-se a tendência cada vez maior para a comercialização de um bem a cujo acesso muitos consideram ser um direito humano básico: o acesso à água potável e acessível.


Assim, da próxima vez que considerarem comprar uma garrafa de água, pensem quando têm oportunidade de recorrer à torneira, pensem duas vezes: uma para o ambiente, e outra para a vossa carteira.


Como dizem os ingleses, “bottoms up”!



Fontes:
http://www.dn.pt/inicio/interior.aspx?content_id=1000576
http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=46760&op=all
http://ecosfera.publico.pt/noticia.aspx?id=1391043
http://www.mnn.com/food/healthy-eating/stories/5-reasons-not-to-drink-bottled-water

Nair Cordas
Nº17473, Subturma 1

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